Sobre o projeto
O Quilombo Ciência é uma rede de pessoas e territórios voltada para a aprendizagem de ciência, tecnologia e filosofia através de iniciativas comunitárias em pequenos grupos.
Nossos objetivos estratégicos

Letramento científico
Promover a ampliação do acesso livre, ativo e consciente às tecnologias e metodologias de todas as ciências e compartilhar dos conhecimentos de todos os povos.

Melhoria das condições de vida
Melhorar coletivamente as nossas vidas nas nossas comunidades locais, causando e exigindo mudanças na comunidade global.

Conhecimento afrodiaspórico
Aprender, discutir, construir e divulgar conhecimentos produzidos por pessoas africanas e descendentes espalhadas pelo mundo.
“Vivemos em uma sociedade extremamente dependente da ciência e da tecnologia, na qual quase ninguém sabe alguma coisa sobre ciência e tecnologia.”
Carl Sagan

Por quê?
Essas são as principais razões que motivaram a criação do Quilombo Ciência.
Conhecimento e Ciência
Para a maioria das pessoas hoje, o sistema educacional parece insuficiente ou inadequado para ajudar a lidar com os desafios de um mundo em constante e rápida transformação e crescente complexidade. Na maioria dos lugares o sistema educacional sofre com o descaso ou a sabotagem deliberada. O controle privado de novas e rápidas descobertas científicas e tecnológicas causa grandes impactos no mundo antes mesmo que elas possam ser minimamente compreendidas e discutidas pela sociedade.
Para lidar com os problemas complexos que enfrentamos, a ciência precisa ser feita e entendida por muito mais pessoas: É preciso revolucionar a escola, expandi-la para além das suas paredes e muros, experimentar novas maneiras de aprender que respeitem as diversas formas de conhecimento e as necessidades, curiosidades, interesses e a realização plena das potencialidades das pessoas. Precisamos popularizar as informações sobre o que as pessoas que trabalham na pesquisa científica estão entendendo, descobrindo, criando, pesquisando e discutindo. É preciso envolver mais pessoas no processo de desenvolver e pensar a ciência. É preciso promover e ampliar o debate sobre os impactos das ciências em diversos aspectos, como a política, a economia, as sociedades e o meio ambiente: O esforço de explicar a ciência precisa ser parte do trabalho de fazer ciência. É necessário também aproximar as universidades e demais espaços de construção do conhecimento formal dos demais segmentos e espaços da sociedade, reconhecer, suscitar e estimular novas vocações nas mais diferentes comunidades e territórios a partir das necessidades e interesses das pessoas que os constroem e vivem neles.
Das comunidades mais remotas e esquecidas podem surgir abordagens e soluções para os nossos problemas locais e globais mais complexos.
Tecnologia
Hoje, as tecnologias que poderiam e deveriam servir para diminuir o esforço do trabalho, criar e distribuir riqueza, erradicar doenças, conectar pessoas e comunidades, servem principalmente para potencializar a concentração da riqueza, sofisticar e aprofundar a exploração e a desigualdade.
As tecnologias disponíveis hoje propiciam à humanidade um potencial quase ilimitado de criação, mas também de destruição. Todo esse poder está concentrado nas mãos de poucas pessoas, mas as consequências afetam a todas e todos nós.
É preciso democratizar o acesso pleno e ativo à tecnologia. As tecnologias são resultado do trabalho e conhecimento de toda a humanidade, e precisam servir para o benefício das pessoas, juntamente com toda a vida na Terra.
O uso compartilhado de tecnologias e o conhecimento aberto e acessível podem potencializar a nossa organização nos lugares onde nós vivemos.
Organização
As pessoas no mundo estão virtualmente mais conectadas umas às outras. A comunicação avançada e amplificada diminuiu os limites das distâncias físicas no mundo e fica cada vez mais claro que as ações em cada lugar da Terra afetam o mundo todo. Ao mesmo tempo não poderíamos estar mais distantes. Colaboramos inconscientemente, sem perceber que todo conhecimento, informações e riqueza que criamos, criamos como uma comunidade.
Hoje, a comunicação e a informação podem potencializar a colaboração: As pessoas podem criar juntas, coisas que poderiam somente sonhar sozinhas.
Ainda assim, a maioria de nós enfrenta condições difíceis de vida, acesso desigual aos recursos básicos e ao próprio tempo para aprender, e assim como todas as formas de riqueza o acesso ao conhecimento também é desigual.
Neste cenário de injustiça, a colaboração entre as pessoas que são oprimidas e exploradas através da construção de fortes redes de confiança e solidariedade é a única possibilidade de subverter as regras, garantir o mínimo necessário para todas as pessoas e liberar tempo e energia para organizar a luta pela vida com riqueza distribuída, ação coletiva consciente na realidade e conhecimento ao alcance de todas as pessoas.
É preciso utilizar todas as formas de organização possíveis para fortalecer a luta contra as injustiças sociais, e uma delas é a organização para aprender. Se quisermos evitar que nossa comunidade global seja destruída levando consigo toda a beleza da vida que sobrevive e floresce nos nossos territórios apesar da injustiça, vamos precisar aprender muito. A começar por aprender a aprender, aprender o amor por aprender, e aprender sobre tudo.
Nós apostamos no poder de transformação da organização a partir dos lugares onde vivemos, no reconhecimento das nossas necessidades e objetivos em comum com as pessoas que vivem perto de nós, e no poder da aprendizagem para criar e fortalecer comunidades.

Como funciona?
Memória, autogestão e consenso
O site do Quilombo Ciência é um registro das coisas que nós estamos aprendendo e o conteúdo criado é disponibilizado para que mais pessoas possam acessar e aprender também, assim queremos criar um espaço de memória coletiva das coisas que estamos aprendendo, pesquisando e criando, um repositório de conhecimento das comunidades.
Mesmo sendo baseado nas ideias de interdependência, cooperação e colaboração, o projeto para funcionar com autonomia precisa ser financeiramente independente. Por essa razão a sua continuidade não pode depender de nada além do investimento das pessoas envolvidas, é preciso garantir independência financeira e uma estrutura de governança interna com participação ativa e construção coletiva.
Por essa razão, o Quilombo Ciência é mantido exclusivamente pelas contribuições espontâneas e individuais das pessoas que acreditam no projeto e por iniciativas autônomas de geração de renda. As decisões são tomadas através de uma estrutura baseada na busca por consenso.
Três frentes de ação pela coletivização de conhecimento.
Na essência deste projeto está a ideia de que o conhecimento só é construído coletivamente, de que ele é construído através de muitas formas e métodos diferentes, e de que ele pertence a todas as pessoas. A ciência, como uma das formas de conhecimento humano, é uma ferramenta poderosa. Para ser potencializada e ao mesmo tempo mais segura ela precisa ser feita, entendida e controlada por muito mais pessoas.
Para abordar esse problema, atuamos em três frentes: O Letramento científico, a divulgação científica e a participação ativa e coletiva na produção científica. Nós pretendemos ajudar a democratizar o acesso e a construção de conhecimento através da aprendizagem em pequenos grupos orientada para o letramento científico, da criação de espaços de discussão sobre o uso consciente da ciência e da tecnologia e da criação de projetos colaborativos práticos para a solução de problemas concretos e necessidades das pessoas e das nossas comunidades.
1. Letramento científico
Escola de projetos
A interação dentro da Rede do Quilombo Ciência se dá por Projetos, organizados em Jornadas e Trilhas. Qualquer participante do Quilombo Ciência pode propor, coordenar ou mediar uma nova trilha. O Quilombo Ciência organiza uma Escola de projetos, que é uma plataforma online baseada no sistema Moodle para organizar as trilhas, se você quiser pode acessar aqui.
A base da escola de projetos são pequenos grupos de pessoas que se organizam para aprender, pesquisar ou criar um projeto juntas.
As trilhas são sequências de conteúdos e atividades que podem resultar na aquisição de um novo conhecimento ou habilidade, na sua demonstração através das avaliações e objetivos propostos e no reconhecimento público do aproveitamento através de certificados. É o caso das trilhas de aprendizagem. Mas também podem resultar na publicação dos resultados de uma investigação científica, como um levantamento de dados em uma trilha de pesquisa, ou em um novo negócio colaborativo, iniciativa cultural ou artística, evento ou muito mais, desenvolvidos e organizados a partir de uma trilha de criação.
Trilhas de Pesquisa, podem ser de vários tipos como um grupo de astronomia amadora, ou o levantamento e processamento de dados importantes para um território. Aprendizagem, como um grupo para aprender um idioma, um assunto, ou estudar para um concurso, vestibular ou certificação, ou então Criação, como um grupo pra construir uma horta ou Laboratório experimental, criar uma cooperativa ou um novo aplicativo, por exemplo.
As Jornadas podem ser feitas de trilhas de diferentes tipos, são formadas por grupos de pessoas que percorrem as mesmas trilhas.
Aprender novas habilidades e conhecimentos pode ajudar pessoas e comunidades a encontrar soluções coletivas para problemas imediatos, como gerar renda, fortalecer o comércio local ou aumentar a empregabilidade das pessoas.
Ao mesmo tempo, essa forma de organização para aprender, pesquisar e criar é um exercício direto do fazer científico e pode ser um canal direto entre a necessidade de entender o conhecimento e a ciência a partir das comunidades e a necessidade urgente das escolas e universidades se estenderem para além dos seus muros e entenderem o conhecimento que as comunidades estão criando.
2. Divulgação científica
Queremos fazer parte de um movimento importante que parece estar acontecendo neste momento. O número de cientistas, pessoas leigas, organizações e instituições que dedicam esforços concretos para explicar e comunicar a ciência tem aumentado nos últimos anos, há uma preocupação genuína de parte de alguns campos do pensamento científico, inclusive institucional, sobre a necessidade de divulgar o que está sendo feito em nome da ciência de maneira ao mesmo tempo tão rigorosa e acessível quanto possível, para um público tão amplo quanto possível. Mas ainda é pouco. Verdadeiras campanhas de desinformação somadas ao controle e do sistema educacional têm promovido o avanço de iniciativas anticiência nesse mesmo período, em vários segmentos da sociedade e em vários lugares do mundo. Em alguns casos, essas campanhas de desinformação contam com muitos recursos e uma estrutura profissional que forma uma verdadeira máquina de propaganda anticiência.
Esses problemas não têm uma solução simples e fácil, mas nós queremos contribuir para trazer muito mais pessoas para a discussão de soluções e levar essa discussão a muito mais lugares.
Queremos produzir conteúdo digital como parte do processo de construção do Quilombo Ciência, compartilhando o que estamos pesquisando e aprendendo e como estamos resolvendo os problemas que encontramos. Queremos também estimular a criação de trilhas em nossa rede que envolvam a criação de sites, páginas, canais de streaming de vídeo, podcasts e outras mídias para divulgar as discussões, descobertas e desafios da ciência.
Além disso, vamos tentar construir parcerias com outros projetos de divulgação científica, programas de extensão universitária e organizações de promoção da ciência.
Queremos promover e estimular também projetos e parcerias para realizar atividades de divulgação científica nas nossas comunidades: Queremos tomar as ruas, praças, escolas e outros espaços para transformar em espaços de convivência e aprendizagem.
A ferramenta de comunicação de ideias mais importante do Quilombo Ciência é o Blog Pilão de Ideias, que você pode acessar aqui. Nesse espaço, queremos promover o debate qualificado de ideias sobre todos os temas de interesse do projeto, sob as mais diferentes abordagens e perpectivas. Qualquer participante do Quilombo Ciência pode publicar no blog, além de pessoas convidadas, as publicações podem ser feitas também em nome de comunidades, círculos, trilhas e coletivos do Quilombo Ciência.
Rede de pessoas e territórios
Estamos criando uma rede baseada nos nossos territórios, nos lugares onde nós vivemos. O objetivo dessa rede é facilitar a organização das pessoas em torno de seus projetos e também a comunicação entre agentes individuais e coletivos que têm os mesmos interesses e preocupações.
As pessoas que fazem parte da rede do Quilombo Ciência podem se organizar a partir de uma mesma Comunidade: Um grupo mínimo de seis pessoas, sem limite máximo. conectadas diretamente por um mesmo local ou território físico, como uma rua, uma ocupação, um bairro, uma vizinhança, uma vila, uma república de estudantes, um condomínio, uma cidade e assim por diante. Podem se organizar também em um Círculo: Um grupo de até seis pessoas da rede conectadas entre si por um projeto comum, e a partir de 3 círculos podem se conectar para começar uma nova Jornada ou a partir de 6 círculos podem formar um Coletivo. Pessoas na rede podem criar conexões com quaisquer outras baseadas em interesses, curiosidades e projetos em comum.
3. Ciência aberta
Produzindo ciência
A maioria das pessoas provavelmente concorda em algum nível que é necessário entender melhor como a ciência funciona. Mas fazer ciência?
Ciência participativa, ciência aberta ou ciência cidadã são iniciativas através das quais pessoas não acadêmicas que se interessam por ciência podem participar dos processos de produção científica em atividades como observar fenômenos, levantar problemas, coletar ou analisar dados.
Nós queremos promover ações e projetos de Ciência Participativa, queremos divulgar essas iniciativas e facilitar a participação em projetos de pesquisa acadêmica que demandem ou possam se beneficiar da colaboração de muitas pessoas.
Processos abertos
Os objetivos, as formas de fazer as coisas, os investimentos, os resultados, as ferramentas utilizadas, as fontes, as contribuições das pessoas, tudo isso pode e deve ser compartilhado pelo Quilombo Ciência e pelos projetos organizados através da ferramenta. Esse é – ou deveria ser – o padrão mínimo também para qualquer projeto científico.
As pessoas só podem tomar as melhores decisões se tiverem acesso ao melhor conhecimento disponível sobre as coisas, isso é fundamental se quisermos construir estruturas de governança mais resistentes aos vieses e argumentos de autoridade. A transparência e reprodutibilidade dos projetos é a expressão do objetivo de aprender criando memória, autogestão e consenso.
Aprenda mais!
Se você quiser aprender mais sobre o projeto, pode percorrer a trilha de aprendizagem sobre o Quilombo Ciência, conhecer detalhes sobre o projeto e entender como participar. Os conteúdos dessa trilha foram pensados para serem percorridos ao longo de uma hora, mas você pode percorrer no seu próprio tempo. Ao final você poderá retirar o seu primeiro certificado, e se quiser poderá tornar-se oficialmente parte do projeto.